O fluxo global de dados da internet muitas vezes nos faz pensar que as ameaças digitais também são globalizadas, como se elas não tivessem traços locais e culturais. A situação não é bem essa, porque muitos agentes maliciosos deixam transparecer influências de sua cultura nacional, tanto no tipo de fraude que praticam como na sofisticação de suas técnicas.
Um fato conhecido é que algumas famílias de ransomware são programadas para evitar ataques em sistemas russos – o que é um indicativo das preocupações locais dos criminosos que praticam essa fraude. Basicamente, o objetivo é evitar que as autoridades locais tenham motivo para investigá-los.
Em maior ou menor grau, é possível perceber o mesmo tipo de "marca regional" em vários outros países. No Brasil, o perfil do crime virtual é bastante ligado a fraudes com retorno rápido e com sofisticação técnica relativamente baixa. Em vez de desenvolver um exploit avançado para explorar vulnerabilidades, o golpista brasileiro explora o fator humano com narrativas de engenharia social, convencendo a vítima a clicar em links para ceder seus dados ou até instalar programas nocivos.
A Axur preparou o ebook Made in Brazil: decifrando as particularidades do cibercrime. O ebook explica como ameaças vistas como "globais" às vezes podem ser explicadas pelas influências regionais dos criminosos que realizam essas ações.
É importante lembrar que muitas fraudes virtuais brasileiras se estendem para fora da internet, já que certos threat actors possuem meios para interagir de forma próxima e direta com suas vítimas. Um exemplo disso são as "cartas falsas da Receita Federal" que, em alguns casos, são depositadas diretamente em caixas de correio, sem passar pelo serviço postal.
O Brasil tem algumas características que acabam exigindo algum conhecimento local, seja para realizar a fraude ou para interpretá-la no contexto de inteligência de ameaças:
A principal motivação do criminoso virtual brasileiro é o lucro financeiro que será obtido com a realização da fraude. O ativismo hacker (hacktivismo) e a espionagem industrial tendem a ficar em segundo plano nos ataques realizados por threat actors brasileiros.
Os criminosos brasileiros também costumam organizar comunidades online para negociar serviços e ferramentas (da consulta de dados pessoais ao malware) e utilizam gírias (o "tramponês") para se referir às atividades realizadas. O nível de segurança operacional (OpSec) costuma ser baixo.
Como já mencionado, a sofisticação técnica fica em segundo plano. A criatividade dos agentes maliciosos aparece na organização do crime, com papéis mais individualizados para cada passo da fraude, e na construção de narrativas para engenharia social.
A Axur acompanha de perto as movimentações dos criminosos brasileiros para aprimorar a coleta de inteligência em ameaças para cada cliente. Se você quiser conhecer o cenário brasileiro e internacional, confira o Relatório de Atividade Criminosa Online.