
Por Fábio Ramos, CEO da Axur
Nos últimos dias, a Oracle tem sido alvo de alegações de um possível vazamento de dados sensíveis. Informações sobre o incidente foram publicadas inicialmente em um fórum conhecido por divulgar violações cibernéticas, o Breach Forum. Apesar da gigante de tecnologia negar veementemente o incidente, uma empresa especializada em cibersegurança afirma que os dados expostos são autênticos.
Diante deste cenário de dúvidas e especulações, fica claro que o episódio levanta questões importantes não apenas sobre a segurança da Oracle, mas sobre a postura esperada das empresas que atuam com inteligência de ameaças (Cyber Threat Intelligence).
Tenho conversado com vários clientes sobre este caso específico, e há um aspecto delicado que merece atenção especial. Se a autenticidade dos dados for confirmada — algo que, pessoalmente, acredito ser possível —, isso não prejudica apenas a Oracle, mas coloca em risco toda a credibilidade do ecossistema de cibersegurança.
Infelizmente, em busca de visibilidade ou diferenciação de mercado, algumas empresas acabam expondo e amplificando esses incidentes de maneira exagerada. Ao transformar eventos sensíveis em disputas públicas, entregam, mesmo sem perceber, ainda mais poder e visibilidade aos criminosos. É como se o atacante ganhasse um megafone para divulgar e amplificar suas ameaças.
A imprensa também acaba desempenhando papel crucial nesse processo. Frequentemente, veículos recebem informações diretamente dos criminosos, pressionam a empresa vítima e, involuntariamente, amplificam a narrativa criada pelos invasores. Hoje é a Oracle, amanhã pode ser qualquer empresa, inclusive a sua. Esse contexto exige uma reflexão séria: afinal, qual deveria ser o papel responsável das empresas especializadas em threat intelligence?
Desde a publicação original no Breach Forum, equipes de segurança ao redor do mundo passaram a investigar o caso, o que é perfeitamente esperado. No entanto, algumas empresas têm ido além, criando landing pages dedicadas, relatórios abertos e usando o incidente como ferramenta explícita de marketing. Precisamos questionar: isso realmente ajuda outras empresas a se protegerem melhor, ou apenas serve como estratégia oportunista de geração de leads?
Outro ponto fundamental nesse caso é que, segundo o próprio atacante, os dados alegadamente vazados encontram-se criptografados. Dessa forma, o dano real imediato não estaria necessariamente nos dados em si, mas na narrativa amplificada de que a Oracle foi invadida.
Além disso, poucos percebem o risco adicional envolvido: neste momento, o criminoso pode estar tentando extorquir a Oracle ameaçando divulgar mais informações confidenciais caso não receba um pagamento. E o pior: o atacante utiliza justamente a repercussão pública gerada por empresas de threat intelligence e imprensa como alavanca adicional para pressão.
Já vi isso acontecer outras vezes: criminosos usando a atenção gerada por empresas que deveriam ser defensoras para potencializar suas ameaças. Precisamos urgentemente refletir sobre qual é o nosso real objetivo enquanto comunidade de inteligência de ameaças.
No fim das contas, quem realmente ganha quando incidentes sensíveis viram campanhas oportunistas de marketing? Infelizmente, apenas quem menos deveria: os próprios criminosos.

CISSP, CISM e fundador da Axur, empresa global e líder em cibersegurança externa. Acumula 20 anos de experiência em segurança digital, tendo trabalhado no conselho de empresas de tecnologia no Brasil e nos Estados Unidos.