Digital Fraud, Threat Intelligence

Fraude no home office: vagas de emprego falsas prometem renda diária

Por Altieres Rohr em
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Criminosos estão se aproveitando das transformações no mercado de trabalho e das facilidades do home office para atrair vítimas com propostas falsas de oportunidades em home office ou em meio período.

O golpe mais recente no Brasil, que vem sendo monitorado pelo time de Cyber Threat Intelligence (CTI) da Axur, começa por meio de aplicativos ou SMS. A proposta quase sempre usa de forma ilegítima o nome de varejistas ou marcas de e-commerce conhecidas no país e alega que o trabalho terá a finalidade de impulsionar as vendas.

 

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Divulgação do golpe por SMS usa promessa de renda elevada e nome de varejista – Foto: Axur

 

Ao longo da conversa, a vítima é convencida a se cadastrar em uma plataforma de comércio fictícia e a pagar uma taxa de "recarga" ou inscrição para poder iniciar as atividades ou "tarefas" de venda. O golpista afirma que é possível receber uma comissão caso outras pessoas entrem no site e realizem o primeiro pagamento, formando um possível esquema de pirâmide.

O valor de entrada é acessível (pode ser R$ 20, por exemplo) e cobrado via Pix. Ao contrário de pagamentos com cartão de crédito, as transferências via Pix são instantâneas e o Mecanismo Especial de Devolução (MED) precisa ser acionado, preferencialmente, logo após a transferência para obter o estorno.

Apesar do valor inicial baixo, os prejuízos podem aumentar com as "recargas" vinculadas à suposta obtenção de tarefas. Como é possível que a farsa seja percebida tarde demais, as chances de reaver o dinheiro pago com Pix são pequenas.

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Após realizar um cadastro, vítima acessa 'plataforma' que supostamente contabiliza seus ganhos. Site funciona como vínculo para novas cobranças. Foto: Axur

 

Fraudes envolvendo propostas de emprego ou renda doméstica já ocorrem há bastante tempo, inclusive com abordagens em sites especializados neste ramo. Contudo, o cenário econômico e o mercado de trabalho atual podem deixar as pessoas mais propensas a cair na fraude e a acreditar na possibilidade de trabalhar de casa.

Uma pesquisa realizada em 2021 pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pela Fundação Instituto de Administração (FIA) apontou que 73% das pessoas estão satisfeitas com o home office e 78% pretendem manter essa rotina com o fim da pandemia.

Na prática, até quem já tem uma atividade pode se interessar por oportunidades de home office – especialmente quando há flexibilidade de carga horária.

Embora algumas propostas soem pouco realistas, prometendo até R$ 4 mil por dia, outros são mais modestos e falam em R$ 100 a R$ 400 diários – o que pode aumentar a credibilidade da oferta.

 

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Oferta promete renda de R$400 e solicita cadastro para ganhar R$ 12. Foto: Axur.

 

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Em seguida, golpista revela que é preciso 'investir R$ 20' para começar a trabalhar. Foto: Axur.

 

Este tipo de golpe, que envolve uma oportunidade falsa vinculada ao setor de e-commerce, já vinha sendo  aplicada em outros países. De fato, o vocabulário empregado nas conversas (como a palavra "telegrama" para se referir ao telefone) sugere que as mensagens podem ter sido traduzidas de outro idioma. Mas a cobrança com Pix e evidências coletadas pelo time da Axur apontam para o envolvimento de atores em território nacional.

 

Golpes representam risco para a imagem das empresas 

Tendo ou não ciência de que sua marca foi utilizada nessas fraudes, as empresas acabam sendo alvo de reclamações das vítimas e nem sempre conseguem responder de forma adequada às queixas de quem teve prejuízo com o esquema.

Monitorar e coibir esses usos indevidos da marca é essencial em uma estratégia destinada a resguardar a reputação da empresa. Para os golpistas, não é interessante montar um esquema que logo pode cair.

O pagamento de comissões para afiliados que ajudam a impulsionar vendas é um modelo de negócios válido e que de fato é adotado por grandes varejistas. Dessa forma, a associação com esse tipo de golpe pode acabar arranhandoa imagem das atividades legítimas.

No pior dos casos, o consumidor pode acreditar que a fraude foi de fato aplicada pela marca utilizada pelos golpistas. Assim, a proteção da marca também ajuda a amparar uma linha de negócio.

 

Fraudes com propostas de emprego falsas

Muitas das fraudes digitais envolvendo propostas de emprego acabam obrigando o candidato a realizar um pagamento ou transferência antes de qualquer contrapartida. A justificativa utilizada, contudo, varia em cada caso.

Conheça algumas das modalidades do golpe:

  • Processo seletivo com taxa de inscrição e "cursos obrigatórios": o candidato é informado que só poderá participar do processo seletivo caso pague uma taxa de inscrição ou compre um curso obrigatório. O valor é recolhido pelos golpistas e não está vinculado a nenhum processo seletivo verdadeiro.
  • Phishing e notificações falsas: Os criminosos utilizam o nome de serviços de divulgação de vagas ou sites especializados em emprego para enviar e-mails falsos que solicitam dados pessoais ou até a senha de acesso ao serviço.
  • Oportunidade internacional: Com documentação falsa, o criminoso se apresenta como representante de uma  empresa no exterior oferecendo inclusive auxílio e custos para morar fora do país. No entanto, o candidato precisa antes custear algum outro tipo de procedimento inerente à viagem internacional – e este valor será depositado na conta do golpista.
  • Retornos elevados em investimento: A proposta promete uma possibilidade de ganho rápido por meio de uma plataforma de investimento de uso simples e retorno praticamente garantido. O esquema costuma ser divulgado por meio de redes sociais e pode ou não estar atrelado a cursos obrigatórios para participação.

É muito comum que marcas de boa reputação sejam envolvidas na aplicação do golpe, gerando impactos negativos na experiência e na percepção dos consumidores.

O monitoramento da marca e a derrubada das páginas e perfis inautênticos podem ajudar a impedir o envolvimento de uma empresa nesse tipo de atividade criminosa, desestimulando o uso de uma marca protegida. Para consumidores e usuários de redes sociais, é importante desconfiar de qualquer oferta ou proposta que exija um pagamento antecipado ou que prometa retornos irreais.

 

 

 

 

ESPECIALISTA CONVIDADO

Eduardo Schultze, Coordenador do CSIRT da Axur, formado em Segurança da Informação pela UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Trabalha desde 2010 com fraudes envolvendo o mercado brasileiro, principalmente Phishing e Malware

AUTOR

Altieres Rohr

Jornalista especializado em segurança da informação. Colabora com o time de conteúdo da Axur.